segunda-feira, janeiro 08, 2007

Nascimento da Paternidade: instrumento de dominação da Civilização Patriarcal

No início dos tempos humanos, não havia paternidade. Antes do surgimento da civilização, raras organizações humanas percebiam o necessário envolvimento do homem na geração de um novo indivíduo. O surgimento da vida era atribuído ao corpo da mulher e logo depois desenvolveram uma divindade feminina a qual se atribuía a fonte de toda vida na terra e nas mulheres humanas. A vida era ocasional, uma benção da deusa mãe de todos.

A maternidade era o centro de toda vida social. Eram tempos matriarcais, à mulher era atribuído um status sagrado devido a serem como representantes da deusa na terra, (encarregada por ela do poder da criação, em tempos em que havia grande carestia e mortes humanas.)

Ao decorrer dessa era, o homem toma o lugar de companheiro da mulher, desenvolvendo um amor pelos seus filhos e se encarregando de protegê-los junto com ela, tomando eles como seus filhos afinal. A mulher divide com o homem os frutos da vida, e uma espécie de paternidade se delineia.

Tudo muda quando o patriarcado se organiza, e funda a civilização humana.

A partir do momento em que as comunidades humanas se fixam cada vez mais, surge a disputa dos grupos por seus próprios espaços para instalar-se, e as comunidades já existentes em um território passam a ter que se defender de um ataque inimigo à sua terra. Isso acaba por elevar a categoria dos homens guerreiros, que faziam a defesa (não que mulheres não estivessem envolvidas nela, mas era priorizado que homens fossem em preferência já que as mulheres podiam gerar novas vidas. Como o homem não podia, era preferível que estes fossem mandados para uma morte possível), e quando um outro agrupamento era conquistado, havia de se instalar um regime de força para submeter essa população. Estava inventado o estado primitivo.

A isso acompanha uma evolução simbólica também: digamos que os tempos matriarcais abrigaram os germes de um ressentimento masculino, que queria ter o poder da criação para si e ocupar o lugar central da sociedade, fundamentar a sociedade em valores masculinos, e tiveram para isso que inventar o masculino, opondo-o a tudo que era feminino. Uma crise de identidade violenta vem disso. Lentamente a revolução patriarcal vai se organizando. E a paternidade biológica será inventada e reivindicará um espaço gradativamente maior até ter um lugar principal.

O importante passo dos homens foi destituir das mulheres o poder da criação e passá-lo para eles. Como isso aconteceu?

Era só surgir a oportunidade...Se fixando, e quando os animais também são fixados (começará em breve a escravidão animal, uma inveja do predador que o herbívoro humano queria ser. Covardemente aprisionam os animais e esquentam sua carne para tornar digerível em seu trato intestinal longo característico dos animais herbívoros. Vemos que aí há a negação da vida, que a mulher representava e que à qual a grande deusa nivelava todos humanos, tornando vexoso que uma espécie animal pudesse se dizer superior à outra) e quando o macho humano passa a observar o comportamento animal, observa um curioso ciclo muito regulado de reprodução...e o acasalamento sempre anterior a isso... e logo se apercebe que em todas etapas o macho estava envolvido. Os cultos ao deus fálico crescem, os homens passam a ter um papel mais importante e um pouco de significado divino também, pelo possível envolvimento no surgimento da vida, nem que fossem como inspiradores da grande mãe deusa. Nessa época ocorriam sacrifícios de jovens mancebos à deusa para que ela abençoasse a terra, as plantas, os animais e as mulheres com a vida. Mas em breve os homens fariam seus sacrifícios de virgens para se vingar das crueldades ultrajantes sofridas.

trato intestinal humano é longo, e de carnívoro é curto, para a carne ser eliminada do organismo pela alto risco de intoxicação que representa, a qual o organismo humano não está preparado. O número 10 no cão é seu intestino grosso. Compare com o tamanho do intestino grosso humano.

A civilização surge com o surgimento da propriedade privada. Os homens tornados importantes com a guerra, tendo se organizado como força, necessários para manter a ordem (necessário pra quem? Talvez somente para eles mesmos no final das contas), sentindo-se gloriosos, valorizados, o narcisismo crescente e a vontade de ser grande, de ser ele talvez o próprio esposo da deusa, um deuso, um deus, assassinando ela para ficar com seu poder...Como assassiná-la?

Se a deusa era a mãe de tudo, uma mãe autoritária, a mesma que também tomava a vida devolta das coisas, e por isso mesmo opressora para quem queria mandar em tudo e em si, o macho humano podia se sentir ele próprio a deusa quando oprimia, possuía (as coisas da deusa: terra, água, seres vivos...), tirava a vida e controlava as coisas. E assim faz, numa afronta à deusa. Apoiado pelo resto da casta de machos, na força militar e no poder de coação ("eu tenho a terra mas nela terá de trabalhar para mim, eu tenho a água mas para bebê-la terá de construir o sistema de canalização dela que pretendo construir, se ousar pôr a mão terá retaliação, se não aceitar morrerá de fome e sede"), os homens dividem a terra entre si e passam a administrá-la eles mesmos, tomando para eles a atividade que era das mulheres. Passam a dizer que o importante para a terra é a semente, e não ela em si. A terra não era nada, era um objeto passível de sua exploração, disposta a se expôr ao seu uso à exaustão, mesmo que violando suas condições naturais. A terra na verdade seria inerte, apenas se prestando a nutrir a semente para torná-la plantação, assim como o corpo das mulheres seria. Os homens têm a semente. Eles tem o poder. Os homens passam a controlar o surgimento da vida: basta ejacularem num corpo feminino, que seja de preferência como uma terra fértil, que se preste bem ao seu papel de gestação do germe masculino. A vida na verdade é poder deles, vem deles, é deles por direito o produto final, do qual a mulher humana também depende como o macho humano. A deusa gera, e o homem toma para si. A paternidade emergia com um vigor estupendo.

Depois de domesticar os demais animais, a terra, a água, os seres humanos que não eram de seu grupo, de se tornar pela força o gerente de toda existência que o envolvia, ele precisava domesticar a fêmea humana, destituí-la de seu poder, respeitabilidade, dignidade, significado, direitos, marginalizá-la, objetificá-la, vendê-la... zombar de sua cara e humilhá-la para torná-la desimportante ou talvez importante como apetrecho seu.

Domesticam assim o corpo da mulher, pois o proprietário precisava de alguém que gerasse filhos para ele herdar as suas posses (ou "patrimônio") e continuar seu mandato no planeta, e filhas para dar de presente aos demais proprietários em nome da geração de uma forte aliança familiar entre eles voltada ao processo de expansão e conquista.

Eles começam a caluniar a deusa, chamar de paganismo indecente o culto à ela, têm a grande idéia de recrutar alguém que se diga visionário e pregue a "verdade" do deus único e masculino, assexuado, esterilizado e que cria com o poder da imaginação, alguém que amaldiçoe a religião vigente (manifestação legítima da cultura desse povo) como a causa de todos os males, como mentiras, como encenações de uma entidade maléfica, e que existe um deus acima de todos os outros e acima dos deuses de qualquer povo. O patriarcado se apóia nessa nova casta de um sacerdócio masculino persuasivo para administrar também as crenças de um povo.

Perseguem os cultos à deusa numa iconoclastia obsessiva até levar a extinção da lembrança dela ou compensar dando em lugar a mãe virgem de cristo, o único filho que não teve sua mãe violada e que foi criada unicamente para gestar a encarnação do próprio deus na terra, o que tem também a vantagem de representar uma nova mãe, que não é esposa de deus, pois o deus do monoteísmo é auto-suficiente, uma mãe criada por ele e para ele, sem poder algum, só com o poder de pedir para que seu filho faça algum milagre, secundária, irrelevante, submissa, dócil, prestativa, o céu de amor da família, que não manda, não se indigna, não se revolta, apenas sofre ou provêm amor docilmente. A mãe de todas as mães terrestres, e seu modelo.

Em lugar da grande mãe (torna-se uma perversão falar em uma heresia desse tamanho) vem um grande pai. Um pai austero, mas que premia com seu amor sóbrio aquele que se deixar domesticar e submeter a ele. Um pai imbatível, poderosíssimo, castigador com toda razão, onisciente e onipresente a vigiar todas atitudes humanas, que tudo sabe e que sempre está certo, racional, temível, que tudo controla e cuja autoridade é impossível ser afrontada e que diz tudo o que você deve fazer, mas que diz querer é proteger (aprisionando) suas crias por elas. A própria palavra paternalismo poderia ser definida nas linhas acima. Isso porque o deus monoteísta passa a dar suporte ideológico e significado divino nesse regime dos homens, que representam esse deus na estrutura da família que organiza para fins estratégicos de conquista de poder. No lar patriarcal (e a família institucional surge com os homens e patriarcal) o homem tem o papel central e maior, todos estão abaixo dele e todos devem se submeter a ele e respeitá-lo. O pai significa o próprio deus dentro de casa, tudo que faz é bom, e o espaço que sua mulher (que é parte de seu patrimônio) conhece e lhe é dado é o espaço desse lar, onde lhe resta a última significação de procriadora e provedora do bem estar do marido e da casa, que deve vigiar a ordem mantida pelo marido. Essa é a realização que deve ter como ser sub-humano que se torna e enfim dizem que essa é sua natureza.

Assim surge a paternidade, não é uma origem muito bonita. Surge para sustentar o regime do patriarcado. Esse regime de violência se mostra muito eficiente nos seus objetivos como mostrou a história, que o homem colocou como mérito exclusivamente seu (a história do homem, eles querem dizer da humanidade, qualquer garota ouve "homem" mas na verdade entende "humanidade"...ignorante de sua própria história e identidade).

O patriarcado é o pai/dono de todas as coisas. O símbolo do pai é um símbolo ligado à autoridade. Se estende do pai privado para as demais formas de autoridade tais como monarcas, com seus filhos-súditos, papas, burgueses e seu proletariado, ditadores e seu povo submisso, presidentes e seus eleitores fiéis e carentes... todos eles apelam para o amor paternalista, persuasivo e manipulador.

A história vai continuar, alguns acontecimentos e desenvolvimentos são fundamentais para modificar a estrutura das famílias e o papel e significado dos pais. O pai vai se recriando, sempre se adaptando às condições materiais de seu tempo, afim de preservar no interior das estruturas tal símbolo fundamental para manutenção do status qo patriarcal.

3 comentários:

Minha Alma Tem o Peso da Luz disse...

seria interessante vc ler sobre a "função paterna " segundo LAcan e segundo Freud...na verdade a deficiência não é masculina ou feminina..ela é humana...não se esqueça q não há agressor sem vítima...tudo funciona como ação e reação...se hoje o homem tem o papel q tem na sociedade não é atoa e nem por ter reprimido a mulher...talvez nós mulheres tenhamos outro tipo de importância no "corpo humano"....se o homem é a CABEÇA, nós somos o pescoço...se é q vc me entende...eles só olham p onde nós os viramos ;)

Anônimo disse...

seria interessante vc ler sobre a "função paterna " segundo LAcan e segundo Freud...na verdade a deficiência não é masculina ou feminina..ela é humana...não se esqueça q não há agressor sem vítima...tudo funciona como ação e reação...se hoje o homem tem o papel q tem na sociedade não é atoa e nem por ter reprimido a mulher...talvez nós mulheres tenhamos outro tipo de importância no "corpo humano"....se o homem é a CABEÇA, nós somos o pescoço...se é q vc me entende...eles só olham p onde nós os viramos ;)

Anônimo disse...

nossa q comentario repugnante