Primeiramente, essas campanhas comodificam um grupo tradicionalmente desfavorecido (mulheres) com a suposta intenção de ajudar um outro grupo desfavorecido (não-humanos). Mas que sentido tem em dizer que devemos tratar um grupo instrumentalmente com o objetivo de ajudar um outro grupo? Isso não faz nenhum sentido de qualquer jeito. Pelo contrário: ao encorajar o público a ver mulheres como objetos, PETA meramente garantirá que as pessoas continuarão a ver não-humanos como objetos. Enquanto continuarmos a tratar as mulheres como carne, nós continuaremos a tratar não-humanos como carne.
É imprescindivel que objetamos ao tratamento instrumental de qualquer grupo. Desvalorando e comodificando qualquer grupo para o suposto beneficio de outro é imoral e derrotista.
Segundo, por acoplar imaginário sexual com imagens de violência em torno de não-humanos, essas campanhas tentam erotizar exploração animal. Nós vivemos numa cultura em que violência, e particularmente violência contra mulher, é erotizada em uma variedade de maneiras. Perpetuando isso, e extendendo à exploração de não humanos, é profundamente problemático.
Terceiro, essas campanhas tem tudo haver com a promoção do PETA e nada com a exploração de animais não humanos. PETA começou sua campanha de nudez contra peles no começo dos 90. A indústria de peles está mais forte que nunca. Houve um dramático crescimento na década passada do número de lojas trazendo peles e o número de designers usando pele combinando com significante diminuição da idade comum dos compradores de pele. Uma enquête de 2004 da Gallup descobriu que 63% dos pesquisados pronunciaram-se em relação a compra e uso de roupas feitas com pele de animais como ´moralmente aceitável´. Ainda que bons resultados para não humanos poderia não justificar sexismo, sexismo não tem produzido nenhum bom resultado pra não humanos.
Quarto, essas campanhas continuarão fazendo um destrabalho pra encorajar uma discussão séria sobre exploração de não-humanos, incluindo a importancia do veganismo, os problemas do bem estar animal, o status apropriado para os não humanos, pensamento especista, etc. Ao invés disso, eles irão fazer qualquer pessoa pensante que ainda não está convencida a desacreditar o “movimento” como estúpido, ofensivo e imaturo. Nao é nenhuma maravilha que outros progressistas politicos isolem o movimento
A idéia de que PETA pensa ser apropriado terminar o striptease de um vídeo com uma frase de Martin Luther King sobre injustiça é indicação encorajadora de que PETA intende trivializar qualquer coisa e qualquer um em sua lucrativa tentativa de se promover. Talvez PETA deveria lembrar que Dr. King avançou significativamente na causa da justiça através do intelecto, tenacidade, dignidade e coragem e sem ter precisado qualquer vez ter “ficado pelado” para ganhar direitos civis ou se engajar em qualquer tipo de sensacionalismo e excentricidade barata que se tornou a marca registrada do PETA.
Eu venho sendo critico com o sexismo do PETA desde o começo dessas campanhas no começo dos 90. E toda vez que eu gerei essa questão com vários dos PETAphiles, incluindo Ingrid Newkirk, fui informado que não havia nada de errado com essas campanhas porque as mulheres envolvidas participavam com prazer e que era uma expressão de feminismo ficar nua “para os animais.” Isso é tão ridiculo quanto dizer que atores afro-americanos que perpetuavam estereotipos racistas em comédias de negros nos anos 1920 e 1930 estavam prestando contribuição à causa. O fato de que a exploração é “com aprovação da vítima” não significa que não é exploração. Apenas tem a dizer que sexismo é tão pervasivo em nossa sociedade que tantas mulheres estejam cegadas por ele. Isso não deveria ser dito com tanta surpresa.
Aqueles de vocês que estimam a PETA como “radical” precisam repensar sua compreensão do que seja o termo. Ser “radical” envolve ir à raiz da causa. Uma solução radical é a que vai à raiz do problema e propoe mudança fundamental.As campanhas do PETA são indistinguíveis das propostas tradicionais de bem estar animal. O fato é que PETA também promove sexismo e tenta ofender qualquer um ao dizer que isso é apenas pra conseguir atenção da mídia não a faz nada “radical.” PETA não está agindo no sentido de uma mudança substancial no paradigma prevalescente da hierarquia especista e opressão – ao contrário, reforça esse paradigma.
A PETA pode ter começado como uma organização que valia a pena, mas tornou-se um fim em si mesma. Vem usando os não-humanos explorados como meras “escoras” numa série interminável de autopromoções que a tornaram multimilionária. Abandonou qualquer pretensão de ser abolicionista, em qualquer sentido sério. A PETA está atrapalhando, e não ajudando, a causa dos direitos animais. Se você apoiar a PETA, deveria pensar sobre manter ou não esse apoio.
Mas, se o fato da PETA dar um prêmio à “visionária” planejadora de matadouros e exploradora de animais Temple Grandin, ou se a posição da PETA de que direitos animais significa animais mortos, não fizer você chegar à conclusão de que Newkirk e seus amigos foram longe demais, a ponto de perderem totalmente o rumo, então talvez um strip-tease frontal feito por uma mulher exaltando as virtudes do bem-estar animal, justaposto a cenas de exploração de não-humanos e terminando com o Dr. Martin Luther King, também não vão incomodá-lo."
Gary L. Francione
Estado do Movimento
© 2007 Gary L. Francione