segunda-feira, julho 23, 2007

Por que abolicionistas?

"Os animais existem por suas próprias razões. Eles não foram feitos para humanos, assim como negros não foram feitos para brancos ou as mulheres para servir aos homens." (Alice Walker)
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A denominação abolicionista, no presente contexto, corresponde à postura daqueles que se opõem à escravidão animal em todas as suas formas. Sabe-se, afinal, que a exploração dos animais é institucionalizada pelo Poder Público e movimenta, mundialmente, poderosas corporações industriais na garantia de interesses econômicos dos mais diversos. Definir o ser humano como espécie superior, que subjuga animais a seu bel-prazer, é prestar uma infeliz homenagem à doutrina antropocêntrica dominante.

Nosso sistema social compactua com a opressão das outras espécies, legitimando a escravização de seres sencientes em meio a um cenário entremeado pela ganância, pela insensibilidade ou pela indiferença humana em relação ao sofrimento alheio. Torna-se o animal-objeto, assim considerado, mera propriedade privada ou recurso destinado à obtenção de determinados fins, sejam eles lícitos ou não. É como se, em nome do poder, triunfassem a espingarda e o chicote sobre as leis morais.

A crueldade humana parece não ter fim. Jaulas, armadilhas, rédeas, gaiolas, esporas, chibatas, correntes, ferro em brasa, granjas, matadouros, arenas e biotérios, dentre outras tantas formas de subjugação animal, tornam-se símbolos da violência humana que se perpetua ao longo dos séculos. O imperialismo, o especismo, os regimes escravocratas, o classicismo, a exploração, etc., têm uma base comum: o antropocentrismo legitimado pela falácia da sociedade patriarcal. Daí porque a autêntica postura abolicionista revela que um movimento em favor dos direitos animais deve se fundamentar em sólidos postulados éticos, nos princípios essenciais da Justiça e na crítica aos atuais valores humanos. Inserido nesse contexto, o veganismo surge como opção mais coerente para buscar e obter transformações.

Daí porque o chamado bem-estarismo animal, a exemplo do apartheid, da libertação sexual e do welfare state, não é uma forma de apoiar a luta abolicionista, e sim de silenciar a causa libertadora. Há de se incluir os animais no âmbito de nossas considerações morais, afastando deles o estigma de propriedade ou da pretensa relevância ambiental que possam vir a ter. Os animais, em síntese, merecem ser respeitados enquanto tais, não em função de sua suposta utilidade aos seres humanos.

É preciso enfrentar a raiz do problema, construindo uma sociedade que se assente em fundamentos filosóficos não-opressivos, que, acima de tudo, respeite as outras espécies, independentemente de sua condição ou serventia. Somente assim poderemos acreditar em um mundo mais justo para todos, em que a escravidão – seja ela qual for - esteja completamente abolida.

"Desconfiai do mais trivial, na aparência, singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar."

(Bertolt Brecht)

quinta-feira, julho 19, 2007

FEMINISMO E ABOLICIONISMO ANIMAL

Sexismo e Especismo - Tamara Bauab Levai

A sociedade atual ainda prioriza o homem branco ocidental em detrimento de todo o resto da criação. Comportamentos considerados culturais, não devem ser confundidos com comportamento natural, não é natural que seres humanos dotados de consciência e racionalidade, do século XXI ainda possam se divertir com acontecimentos como um rodeio ou uma tourada, seres que pregam a paz e dizem lutar por ela ainda toleram violência contra a mulher achando que este tipo de coisa é natural, não é.

O movimento de libertação visa por fim ao preconceito e a discriminação baseados em características arbitrárias, como a raça, o sexo ou a espécie, talvez o especismo seja nossa última fronteira ética, isso requer uma expansão dos nossos horizontes morais.

Negros e mulheres já foram considerados seres inferiores, desprovidos de alma ou inteligência. Querer igualdade moral para os animais parece tão absurdo quanto achavam absurdo a igualdade feminina.

Os sexistas violam o princípio da igualdade, ao favoreceram os interesses do próprio sexo. Os especistas ao levarem em conta os interesses de sua própria espécie em detrimento dos interesses de membros de outras espécies .

No começo da "ocupação" humana sobre a Terra, ainda não se reconhecia o envolvimento do homem na geração de novos seres. O surgimento da vida era atribuído ao corpo feminino, e por este motivo desenvolveram uma divindade feminina, a vida era ocasional, uma benção da deusa mãe. Eram tempos matriarcais.

O homem se esforça para estar ao lado da mulher desenvolvendo amor pelos filhos. Nosso sucesso como espécie deveu-se á divisão do trabalho entre machos e fêmeas, os machos se especializaram na função de provedores de alimento, as fêmeas ocupavam o centro da vida social, preparando o alimento, criando os filhos e organizando a tribo, as mulheres aprenderam a lidar com vários problemas ao mesmo tempo. Havia um equilíbrio entre homens e mulheres, eram diferentes mas iguais.

As comunidades humanas se fixam cada vez mais, surgem disputas dos grupos por territórios, isso eleva a categoria dos homens a guerreiros pois a vida da mulher como geradora de vida nova era muito valiosa e merecia ser defendida.

Lentamente um ressentimento masculino vai germinando neste estado primitivo, que queria ter o poder de criação para si e ocupar o lugar central da sociedade, surge o masculino opondo-se a tudo o que era feminino. Lentamente a revolução patriarcal vai se organizando.

O homem toma para si o poder da criação, os cultos ao deus fálico crescem, o homem passa a ter maior importância no surgimento da vida.

Os homens tornaram-se importantes com a guerra, organizam as coisas para "manter a ordem", se sente forte, glorioso, com desejos de grandeza, esposo da deusa, um deuso, um deus...para isso tem que assassinar a deusa, tomar-lhe o poder, tomando a terra, desprezando a terra, dizendo que o importante é a semente, assim como o corpo da mulher seria inerte sem a semente masculina.

Tomam o poder de controlar a vida. A deusa gera e o homem toma para si, surge o paternalismo, surge a propriedade, a terra propriedade, a mulher propriedade, os filhos propriedades, os animais propriedade.

A deusa é caluniada, seu culto é chamado de paganismo indecente, o deus é gerado numa mãe virgem inviolada e sofredora, de um pai austero que premia com seu amor quem se deixa domesticar e submeter-se a ele, um pai punidor, racional, controlador.

Um deus homem, um lar patriarcal, um regime de violência, dominação.

Disso decorrem o patriarcado - a falácia do poder - o imperialismo, o militarismo, o capitalismo, o industrialismo, o consumismo, o racismo, o sexismo e o especismo. Dominação andro-antropocêntrica, exploradora e antiecológica.

O modo como toleramos a violência e crueldade contra os animais não humanos, nos mostra como toleramos também a violência contra as mulheres, os negros, os pobres, os idosos.

Assim com as feministas, os defensores dos direitos dos animais, são ridicularizados, suas aspirações consideradas irrelevantes, são acusados de: radicais, extremistas, chamados de histéricos, emotivos, neuróticos, anti-sociais.

Opor-se a exploração animal é um ato de amor próprio, de escolha, de liberdade de dizer não, de não ser massificado pelo sistema.

Podemos escolher ter uma vida não brutalizada, não violenta.



http://www.sentiens.net/top/PA_TRI_tamara_03_top.html


quinta-feira, julho 12, 2007